A carne suína é a fonte de proteína animal mais consumida no mundo, representando quase metade do consumo e da produção de carnes. O Brasil foi responsável, em 2006, por 2,9% da produção mundial, ou 2,87 milhões de toneladas. É o quarto maior produtor, abaixo da China, da União Européia e dos Estados Unidos da América. A suinocultura é praticada com maior ou menor intensidade em todos os estados, sendo que a Região Sul concentra 44% do rebanho e 61% do alojamento tecnificado de matrizes. A produtividade da suinocultura brasileira é variável, dependendo da região e do tipo de produção, alcançando, como no caso de Santa Catarina, um desfrute de 170%, comparável ao obtido por alguns dos países produtores com maiores índices produtivos. Contabilizando apenas 5% do total produzido o comércio internacional de carne suína é modesto quando comparado com a carne bovina e de aves. Mesmo assim, e apesar do acirramento da concorrência internacional, o Brasil apresentou um desempenho excepcional na última década, atingindo em 2005 a marca recorde de US$ 1,2 bilhão e 625 mil toneladas em exportações, correspondendo a uma média de 20% da produção nacional. O dinamismo no mercado externo não tem sido acompanhado pelo mercado interno, com um consumo per capita de aproximadamente 12 kg/habitante/ano, praticamente estagnado desde o início da década e inferior à média internacional. Ao contrário dos consumidores asiáticos, europeus e norte-americanos, o brasileiro consome mais as carnes de frango e bovina do que a suína. Assim, a falta de uma base sólida no mercado interno, a crescente dependência nas exportações ainda concentradas em poucos parceiros comerciais, os problemas sanitários no rebanho bovino e as barreiras comerciais apontam para um quadro de incerteza futura e maior pressão competitiva entre os suinocultores brasileiros.
Este cenário, aliado ao crescimento no alojamento tecnificado de matrizes, atualmente em 1,5 milhões de cabeças (às quais se somam 918 mil cabeças do rebanho de subsistência), ao aumento dos custos ambientais e à pressão altista no preço dos grãos em função do avanço das culturas energéticas para a produção de álcool e biodiesel, coloca em primeiro plano a busca pela eficiência e pela qualidade. Dessa forma, torna-se essencial a produção de carne com padrão de qualidade definido, que possa ser rastreada, que seja segura do ponto de vista alimentar, ambientalmente sustentável, com respeito ao bem-estar animal e que atenda as expectativas do consumidor. Além disso, a produção precisa atender não apenas às exigências do mercado consumidor, mas da sociedade como um todo, a partir de critérios fundamentados na sustentabilidade da produção, o que também inclui a eficiência e a viabilidade econômica da atividade. As diretrizes de Boas Práticas de Produção de Suínos (BPPS) aqui descritas tem como objetivo enfatizar a busca de uma produtividade que torne a exploração de suíno economicamente viável, sem se descuidar da segurança do produto, da preservação do ambiente, do bem-estar animal e dos princípios da responsabilidade social vinculados aos fatores de produção. Esses objetivos servem de base para outros programas de fomento à melhoria de qualidade do produto, difundidos em âmbito mundial, como a Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC), ou para a implantação de programas de incentivo à certificação agropecuária por meio de diversos protocolos com reconhecimento internacional. Este documento também objetiva atualizar a Circular Técnica n.º 39 acrescentando um roteiro para auditorias das granjas referente as boas práticas de produção de suínos (checklist). As BPPS podem beneficiar os sistemas de produção de suínos de ciclo completo (CC) em atividade, assim como orientar a ampliação ou a implantação de novos sistemas. Pelo fato de contemplar todas as etapas da produção, desde a aquisição do material genético até a entrega dos suínos de abate na plataforma do frigorífico, as BPPS aplicam-se, ainda, a sistemas de produção que executam apenas parte das etapas de produção de suínos, como a Unidade de Produção de Leitões (UPL), que produz leitões até a saída da creche, e a Unidade de Terminação (UT), que recebe os leitões de uma UPL e executa as fases de crescimento e de terminação, ou mesmo os sistemas ainda mais especializados, como são os crechários (sistemas especializados para recria dos leitões envolvendo apenas a fase crítica que vai desde o desmame até os leitões alcançarem 22 kg). O sistema intensivo de suínos criados ao ar livre (Siscal) não está contemplado nessas BPPS, que neste caso devem ser implantadas com o apoio de técnicos especializados. Da mesma forma nos processos de tomada de decisão mais críticos, como a implantação e a manutenção de um sistema adequado de controle sanitário nas granjas as orientações de ordem técnica devem ter o aval de profissional habilitado visando a obtenção de êxito nos programas implementados. As BPPS, aqui recomendadas, consideram as peculiaridades de sistemas comerciais de produção de suínos adotados no Brasil, podendo também contribuir para a melhoria dos sistemas de subsistência. A adoção dessas BPPS deve obedecer às Legislações Ambiental e Trabalhista e ao Estatuto da Criança e do Adolescente, vigentes no Brasil, bem como aos princípios éticos de igualdade de salários entre trabalhadores urbanos e rurais quando no desempenho de atividades equivalentes. 2 Planejamento da atividade O estabelecimento de uma nova atividade precisa, necessariamente, ser precedido de um planejamento com previsão do potencial de comercialização do produto final, das disponibilidades de insumos, das implicações ambientais do projeto, dos custos de implantação, do sistema de produção e dos pacotes tecnológicos escolhidos e das metas de produção para prever a viabilidade do retorno econômico dos investimentos. Um bom planejamento contribui fortemente para garantir a sustentabilidade da atividade, a preservação ambiental e o conforto dos animais, além de facilitar o manejo. 2.1 Projeto ambiental · Considerar a disponibilidade dos recursos naturais da propriedade e da bacia hidrográfica, planejando o monitoramento ambiental durante o desenvolvimento das atividades; · Obter do órgão competente as licenças ambientais pertinentes, antes de iniciar a implantação e operação do sistema de produção; · Respeitar o Código Florestal Federal, a Legislação Ambiental e o Código Sanitário do Estado, especialmente, quanto às distâncias mínimas das instalações em relação à estradas, casas, divisas de terreno, nascentes de água, açudes, rios e córregos; infra-estrutura para manejo dos dejetos; área para disposição dos resíduos da produção;
Planejamento da produçãoA organização do fluxo de produção de suí-nos na granja, depende do planejamento das insta-lações. A granja deve ser construída em salas porfase de criação, considerando o tamanho do reba-nho, o intervalo entre lotes de porcas que se preten-de trabalhar e o período de ocupação de cada sala(período em que os animais permanecem na sala,mais o vazio sanitário) principalmente nas fases dematernidade, creche e crescimento-terminação.Desta forma, será possível produzir animais emlotes com idades semelhantes na mesma sala eviabilizar a realização de vazio sanitário entre eles.A produção em lotes visa reduzir a pressão infec-tiva, o uso de medicamentos e a transmissão dedoenças entre os animais de diferentes idades, bemcomo, melhorar o desempenho dos animais, a ges-tão da granja e organizar a mão de obra. Os interva-los entre os lotes, mais utilizados em nossa suino-cultura são de 7, 14, 21 ou 28 dias. Para calcular onúmero de salas necessárias em cada fase deprodução e o número de lotes de matrizes no reba-nho para atender o fluxo de produção com o interva-lo entre os lotes desejado, podemos utilizar as Fór-mulas 1 e 2, respectivamente.Fórmula 1Cálculo do número de salas em cada fase de produção Período de ocupação + vazio sanitárioNúmero de salas = Intervalo entre os lotesFórmula 2Cálculo do número de lotes de porcas no rebanho Intervalo entre partosNúmero de lotes = Intervalo entre os lotesPara planejar a produção de uma granja, su-gere-se consultar o Comunicado Técnico EmbrapaSuínos e Aves N.º 325 (Mores & Amaral 2003).Para melhor eficiência do vazio sanitário, assalas devem ser independentes, tendo apenas umaporta de acesso e a circulação entre elas deve serrealizada através de corredor externo.Para atender a necessidade do número deporcas na semana de cobrição, seja qual for ointervalo entre os lotes utilizado, deve-se prevercom antecedência a inclusão de leitoas de repo-sição em cada lote de porcas desmamadas (cercade 15% de leitoas por lote para uma taxa dereposição anual de 40%).2.5 Estudo da viabilidade econômicaPara um novo investimento o produtor deveráestar atento aos seguintes aspectos relacionados aoestudo da viabilidade econômica:· Levantar com maior detalhamento possível asinformações que interferem no valor do investi-mento inicial, o que implica em dispor de umestudo técnico bem fundamentado;· Conhecer bem o planejamento da produção pa-ra verificar o tempo em que o projeto não gerareceitas e gera apenas despesas, o que corres-ponde à necessidade de capital giro;· Utilizar na avaliação econômica indicadores queconsiderem o custo de oportunidade do capital,ou seja, indicadores que permitam comparar arentabilidade do dinheiro investido no projetocom aquela possível de ser obtida no mercadofinanceiro (poupança ou fundos de renda fixa)ou com as taxas de juros de financiamentos to-mados;· Os indicadores mais adequados para isso sãoos Valores Presente Líquido (VPL) e a Taxa In-terna de Retorno (TIR);· O tempo de retorno do investimento conhecidocomo pay-back (calculado pela divisão do inves-timento inicial pelo lucro líquido anual) não é umindicador adequado por não levar em conta ocusto do capital e por se tratar de um indicadorde liquidez e não de rentabilidade;· Tomar decisões baseadas neste indicador podelevar ao comprometimento financeiro e a esco-lhas de investimento equivocadas;· É importante que o produtor conte com uma as-sessoria devidamente capacitada para fazeruma análise econômica consistente e estabele-cer o planejamento financeiro da atividade;· O custo desta assessoria pode se tornar aces-sível quando dividido entre diversos produtores,à medida que as associações de produtoresestejam engajadas na prestação de serviçosdesta natureza ou, através da contratação deconsultores com o pagamento baseado nosresultados do projeto.
Manejo dos machos · Fornecer aos machos de 2 a 2,5 kg de ração de crescimento ou ração específica de reposição por dia dependendo do seu estado corporal, até iniciarem a vida reprodutiva. Após o início de vida reprodutiva fornecer dieta específica para cachaços, ou, na sua falta, dieta de gestação, ao redor de 2 kg/dia; · Passar por um período de adaptação de, no mínimo, 4 semanas antes de realizar a primeira monta; · Treinar os machos entre 7 e 8 meses de idade, usando uma fêmea que já teve mais de um parto (plurípara), dócil, com reflexo de tolerância e de tamanho semelhante ao do macho; · Realizar a primeira monta com o peso mínimo de 140 kg. A freqüência de salto semanal deve ser ajustada de acordo com a idade do cachaço: · No máximo duas montas por semana entre 7 e 11 meses de idade; · Até quatro montas por semana com idade acima 11 meses de idade; · Machos doadores de sêmen para IA são manejados com 1 a 2 saltos por semana e excepcionalmente 3 saltos semanais, enquanto que o ritmo ideal é de 3 saltos a cada 2 semanas. 6.3 Manejo das leitoas · Fornecer diariamente às leitoas de 2,5 a 3,0 kg de ração de crescimento ou ração específica de reprodução, visando a redução da variabilidade de peso do lote, em duas refeições, até duas semanas antes da cobrição. Os produtores que não formulam essas dietas podem substituí-las por ração de lactação; · Não permitir o contato direto ou indireto das leitoas com o macho antes de completar 5 meses de idade; · Iniciar o estímulo do cio após 5 meses de idade, utilizando um macho com bom apetite sexual, acima de 10 meses de idade, dócil e não muito pesado e registrar a data do cio em ficha específica; · Fazer o rodízio de machos para o estímulo e a detecção do cio; · Recomenda-se trabalhar com grupos pequenos de leitoas (entre 6 e 10 leitoas/baia), o que facilita o manejo e permite contato eficiente do macho com cada uma das leitoas pré-púberes; · Estimular o cio, colocando o macho por 20 minutos na baia das leitoas duas vezes ao dia, com um mínimo de 8 horas de intervalo, cerca de uma hora após a alimentação; · Não alojar o macho utilizado no estímulo do cio em local que permita contato constante com as leitoas; · Anotar quando o cio foi detectado na ficha correspondente, para prever a data de cobrição; · Duas semanas antes da data provável de cobrição, fornecer às leitoas ração de lactação à vontade para estimular a ovulação (técnica conhecida como “flushing”).
Parto e lactação O parto e a lactação são as fases mais críticas da produção de suínos. Portanto, todos os esforços dedicados nas fases anteriores podem ser perdidos se atenção e cuidado especiais não forem dedicados aos recém-nascidos. Por melhor que seja o ambiente fornecido aos leitões após o parto, nunca será melhor do que aquele oferecido pelo útero da mãe. Na maternidade, portanto, o produtor encontra um verdadeiro desafio para garantir bons resultados na sua atividade. A seguir são descritos os principais pontos de manejo que devem ser seguidos nesta fase de criação. · Manejar as salas da maternidade segundo o sistema “todos dentro, todos fora”, ou seja, entrada e saída de lotes fechados de porcas, e proporcionar o vazio sanitário considerando o planejamento de uso das instalações da granja; · Alojar as porcas na maternidade cerca de sete dias antes da data prevista do parto (considerar a data média de previsão de parto do lote); · As salas de maternidade devem fornecer dois ambientes distintos: para as porcas, manter as salas com temperatura interna o mais próximo possível de 18ºC, usando como referência um termômetro localizado ao centro da sala; para os leitões, os escamoteadores com a temperatura interna próximo de 34,0°C na primeira semana, reduzindo-se 2,0°C por semana até o desmame, a qual deve ser controlada por um termostato instalado no interior de um escamoteodor em cada sala; · Certificar-se de que todos os equipamentos e produtos necessários para o parto estejam disponíveis e limpos; · Fornecer ração de parto, contendo 3,0 a 5,0 kg/ tonelada de sulfato de magnésio (sal amargo) e um antibiótico de largo aspectro, a partir do alojamento das porcas na maternidade até cinco dias após o parto; · Logo que iniciar o parto, limpar o úbere da porca com um pano umedecido em solução desinfetante à base de iodo, antes de colocar os leitões para mamar, como medida preventiva para diarréia dos leitões; · No dia do parto, não fornecer ração para as porcas, deixando apenas água disponível. No dia seguinte ao parto, fornecer cerca de 2,0 kg de ração e aumentar gradativamente até o terceiro. A partir daí fornecer ração à vontade; · As fêmeas que não se alimentarem no dia seguinte ao parto, medir a temperatura retal. Se apresentar temperatura acima de 39,8ºC medicá-las sob orientação do veterinário com 10 a 15 UI de ocitocina, antibiótico injetável e antitérmico. E quando possível fornecer pasto verde para fêmea; · Normalmente não se deve interferir no parto, a não ser quando a fêmea não conseguir expulsar os leitões. Nesse caso, deve-se introduzir no canal vaginal uma mão enluvada para exploração, e caso necessário retirar os leitões. Na hipótese de não ter leitão no canal e a porca não apresentar contração uterina, aplicar de 10 a 15 UI de ocitocina;
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