Cuidar da nutrição é importante, mas os investimentos terão
melhor resultado se a sanidade do rebanho estiver em dia
Uma pneumonia subclínica pode fazer com que o animal deixe
de ganhar de 50 gramas a 200 gramas por
dia. Ao final de 90 dias, se três bois apresentarem o problema, a perda chega
de uma a quarto arrobas. O criador preocupa-se em fazer uma boa compra e muitas
vezes esquece dos cuidados necessários com sanidade para que o retorno seja o
melhor possível.
A falta de cuidados nesta área é apenas uma das causas de
estresse, agitação e sodomia nos animais confinados. Genética, manejo e
nutrição também devem ser observados. Para evitar perdas, siga os 10
mandamentos do confinamento.
1. Bom manejo de chegada: os animais chegam estressados,
desidratados e enfraquecidos de longas viagens, este fato diminui a imunidade e
predispõe a doenças. É comum observar lesões de casco decorrentes ao transporte
o que predispõe a pododermatites no confinamento.
É preciso adotar práticas de Manejo Racional e Boas Práticas
na vacinação e vermifugação. Em decorrência do estresse da viagem, ocorre a queda de defesa imunológica do
animal, fazendo com que ocorra multiplicação de Mannheimia (antiga Pasteurella)
haemolytica, bactéria presente na “flora” oronasal de animais sadios e, com
imunossupressão há intensa multiplicação, invasão e colonização pulmonar
principalmente nos lóbulos craniais, levando a pneumonia nas primeiras semanas
pós entrada;
2. Controle sanitário: todos os animais devem ser vacinados
contra clostridioses e vermifugados adequadamente. O confinamento deve ter uma
farmácia veterinária básica para outras ocorrências infecciosas e para atender
corretamente animais feridos;
3. Separar prioritariamente animais em lotes padronizados e
de mesma origem: os animais já se conhecem, portanto a liderança já está
definida ou em equilibrio. Quando essa premissa é desrespeitada os animais
levam cerca de 20 dias para reestabelecerem a liderança através do
comportamento de competição (a competição é natural e não há como evitá-la, ela
precisa ocorrer);
Um bovino é capaz de reconhecer e estabelecer interação com
no máximo 150 outros bovinos, por isso lotes muito grandes e confinados acabam
estabelecendo períodos de competição mais prolongados. Até que a liderança seja
estabelecida, a maioria dos animais perde peso ou apresenta um ganho de peso
deficiente neste período;
4. Respeitar a lotação no confinamento: o ideal é trabalhar
com lotes de 12-15m²/boi, em confinamento descoberto e no coberto as lotações
podem ser até 7m² – quanto menor a lotação, mais calmos os animais ficam; vale
lembrar que os piquetes não podem ter formato retangular, com cocho na parte
menor, pois o dominante só vai deixar os demais se aproximarem do cocho quando
ele chegar primeiro. A frente deve ser sempre maior, pois é onde se localiza o
cocho;
5. Bom manejo e controle nutricional: trabalhar com leitura
de cocho para manter uma pequena sobra (score 2 – com sobra de 5 a 10%, ou
camada fina inferior a 5cm); a disponibilidade de cocho deve ser maior que 40cm
lineares/cabeça (comprimento do cocho) e respeitar um período mínimo de
adaptação para dieta (8 dias, mas o ideal seria acima de 21 dias). Observar a
qualidade e conservação dos insumos (milho, resíduos agrícolas etc) para
afastar a ocorrência de intoxicações e toxinfecções que causam poliencefalomalácea,
botulismo e diarréias;
Animais provenientes de grandes distâncias, quando chegam e
são colocados em piquetes já existentes, comem em grande quantidade, freqüência
de fornecimento do trato, animais não adaptados, todos estes fatores podem
apresentar quadros de acidose ruminal. Devido a intensa produção de ácidos, há
lesão na parede ruminal gerando as ruminites. Tais lesões facilitam a entrada
de bactéria na corrente sanguínea, chegando ao fígado e pulmões rapidamente,
isso explica-se o surgimento de abscessos hepáticos e broncopneumonia;
Dados inéditos nacionais, mostram um fator de risco de 12,6
e 5,8 vezes das ruminites ocasionando abscesso hepático e pneumonia,
respectivamente. As desordens digestivas são a segunda causa de transtornos
encontrados no confinamento, ficando atrás apenas de quadros respiratórios.
6. Sombreamento: o sombreamento para o animal deve ser no
fundo do curral e não sobre o cocho. Existem dois tipos de sombreamento: 1) o
de cocho, suficiente para manter a qualidade do alimento e para proteger o
cocho contra a chuva e 2) o para bem-estar animal que deve ser feito ao fundo
do curral (sombrites). Grandes áreas de sombreamento sobre o cocho atraem os
animais para descanso, aumentando o volume de matéria orgânica (urina e fezes),
predispondo a pododermatites, além de estimular competições e sodomia;
7. Formação de poeira: este evento pode ser evitado através
da utilização de aspersores (existem vários modelos, sendo necessário a
consulta de um técnico experiente). A poeira predispõe a enfermidades
respiratórias. O excesso de água oriundas dos aspersores desregulados e
bebedouros quebrados formam lama no curral; Mas não adianta ter aspersores
apenas dentro dos piquetes, sendo que fora os caminhões transitem com altas
velocidades levantando poeira, principalmente durante o fornecimento do trato;
8. Formação de lama: este evento deve ser prevenido durante
o dimensionamento do confinamento, utilizando graus de declividade de 5% a 8%,
com boa compactação do chão, áreas de escoamento (laterais e fundo), bebedouros
de boa qualidade (manutenção e dimensões adequadas), área de cocho calçada para
evitar uma maior compactação (comum neste local).A lama aumenta o risco de
pododermatites, acidentes e reduz significativamente o ganho de peso em alguns
casos. Não deve ser feito o calçamento com pedras ou pedregulhos, pois podem
predispor a quadros de pododermatites nos animais confinados;
9. Controle da Sodomia (Raça e Sexo): animais de origem
taurina apresentam maior libido o que consequentemente aumenta a sodomia.
Afastar o lote de fêmeas do lote de machos e a castração dos machos precisa ser
bem avaliada economicamente (sua viabilidade depende do contexto econômico e
atualmente está em desuso na terminação).Existem alguns produtos anti-sodomia/anti-estresse.
O cromo e o lithium possuem excelente ação ansiolítica natural. Lembrando que
para utilização de qualquer medicamento, deve-se sempre consultar um médico
veterinário;
10. Animais doentes e animais sodomizados (que aceitam a
“monta”): Animais doentes são mais facilmente dominados por outros e
sodomizados, por isso devem ser afastados do lote e levados para o curral de
enfermaria. Os animais sodomizados devem ser retirados do lote. Os animais que
realizam a “monta”, caso estejam em menor número, devem ser apartados. É mais
fácil manejar um animal que monta em outros 10 animais do que retirar os 10 que
por ele são montados.Na Austrália, desenvolveram uma cordoalha com choque
próximo a linha de cocho, uma vez que o índice de monta é maior nessa linha –
este método é punitivo e os animais aprendem a montar longe da cordoalha.
Modelo de Farmácia veterinária para confinamento ( todos os
nomes são genéricos)
Deve conter:
· 3
antibióticos de amplo espectro: norfloxacina, penicilinas, oxitetraciclinas
para tratar as enfermidades infecciosas descritas acima;
· 2
antiinflamatórios: sendo um não esteroidal (Meloxicam, Diclofenaco ou Dipirona)
e um esteroidal (Dexametasona)
· Vermífugos
de baixo residual (14 dias de carência para o abate): ricobendazole (nome
genérico)
·
Endectocidas: Ivermectina 1% ou doramectina 1% (para prevenir e tratar
bicheiras de animais feridos e bichados)
· Mata
Bicheiras spray: para tratamentos tópicos de bicheiras
·
Antissépticos, bactericida e antifungicos de uso tópico: amônia
quartenária e iodo (para limpar feridas e curetar cascos)
· Reguladores
digestivos: cálcio reforçado, membutona, acetil butíleno ou citrato
· Soros
energéticos e hidratantes: soro (Ativos importantes: dextrose, metionina,
vitamina do complexo B e minerais).
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